segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Esgotamento Espiritual



Faz cerca de vinte anos que ouvi pela primeira vez a expressão “esgotamento espiritual” e antes que lesse qualquer material a respeito do assunto passei a elaborar minhas próprias idéias do que poderia realmente significar aquilo.

Seria possível uma pessoa crente esgotar-se espiritualmente? E a relação com Deus não seria suficiente para mantê-la saudável e “abastecida”? Essas foram algumas das perguntas que me fiz.

A partir das minhas primeiras impressões e divagações e principalmente da visão que eu até então tinha do que fosse vida cristã, fiquei com receio de que meu envolvimento com as atividades da igreja pudessem então me esgotar.

Imediatamente comecei a imaginar uma maneira de diminuir meu ritmo de programações na igreja. Isso porque, muitas vezes, me indignei ao perceber que as pessoas que haviam participado de uma programação relacionada com a igreja e elaborada por mim, pela qual eu “dera meu sangue”, estavam satisfeitas e felizes ao final dela, ao passo que eu sentia-me vazio e frustrado...

Cheguei mesmo a imaginar que liderar eventos relacionados à vida cristã era uma tarefa que exigia um preço alto demais e que em vários momentos não estava disposto a pagá-lo.

Até que, como sempre, pela graça e misericórdia de Deus, percebi que o grande problema àquela altura, era o que eu imaginava ser relacionamento com Deus.

Para mim, até então, e creio para muitos cristãos sinceros, relacionamento com Deus media-se pela atividade que pudesse executar para ele e nestas circunstâncias, era preciso trabalhar muito, tanto quanto se desejava ter comunhão com o Pai Celestial.

Não era à toa que vez por outra me via esgotado, e quando esgotado, com a sensação de desamparo, porque quando se busca a Deus e a sua presença pela obra que realizamos em nossa própria força, o resultado será muita energia desperdiçada e nenhuma comunhão real.

É mais ou menos como se um milho de pipoca tentasse se tornar pipoca sem contar com ajuda externa - o calor. Não importa a intenção, o que se faça; o milho só deixa de ser milho para ser pipoca quando se expõe ao calor, e a única coisa que lhe cabe é esperar uma ação que não é sua, causar a transformação que o muda para algo útil.

Fazer coisas para alcançar a Deus resulta em cansaço porque este é o preço do envolvimento com as coisas. Cuidamos do carro, zelamos pela casa, economizamos para um sonho de consumo; nos esforçamos para evangelizar, participamos de todos os cultos e programações da igreja, etc. mas não alcançamos a Deus. Tudo que conseguimos é ficar cansados e isso gera insatisfação.

Provavelmente agimos assim porque pensamos que Deus está nas coisas, mas apesar de Deus ser onipresente, a única obra de suas mãos, na qual ele decide habitar, são as pessoas que o buscam quebrantadas: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos.” (Is 57.15). Este texto revela que Deus se dispõe a habitar no coração dos contritos, humildes e abatidos.

Creio que aprendemos a amar tanto as coisas que as deificamos (atribuímos a elas poderes e características divinas) e como estamos tão envolvidos com a criação, por fim diminuímos o Criador.

Somos tão envolvidos com a nossa auto-suficiência que, decretamos que nosso trabalho nos fará aceitos por Deus, mas tudo isso é apenas milho rolando de um lado para o outro sem calor suficiente, mas esperando ser transformado em pipoca...

Deus não está nas coisas. Por isso as coisas nunca nos aproximarão de Deus. Deus está nas pessoas. Nas pessoas que receberam a Cristo em suas vidas por meio do Espírito Santo que passa a habitar nelas.

Um dia entendi que o salmista foi preciso ao dizer: “Como o cervo anseia pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.” (Sl 42.1-2a).

Nós temos que declarar nossa necessidade de Deus e após isso experimentaremos a saciedade perene que há em Cristo. O Senhor Jesus nos oferece beber dele para que não tenhamos mais sede (Jo 4.14), no entanto, ele mesmo nos orienta a mantermo-nos na fonte (gerada e mantida por ele) para que não nos esgotemos (Jo 15.4).

Descobri que a obra de Cristo em nossa vida muda tudo e tão profundamente que nosso trabalho não é mais cansativo ou esgotante, ele é vivo, eficaz e gratificante, porque não se faz mais para se acessar a Deus, mas sim por gratidão e alegria.

Gratidão porque tudo foi feito e continua a ser realizado pelo próprio Senhor Jesus até o dia em que ele mesmo nos chamar à sua santa presença (Fp 2.13).

Alegria, porque finalmente rompe-se com as coisas (que nos faz relacionarmo-nos com a criação apenas) e estabelecemos relacionamento com o Criador e cada segundo de relação íntima com Deus equivale a um turbilhão de água de vida jorrando em nós e por meio de nós.

Hoje quando me sinto esgotado, sei que estou agindo na minha própria força e aí corro para a fonte.

Como é bom encontrar a fonte de água da vida e nela permanecer...

Como é bom encontrar a Cristo Jesus e permanecer nele!

Deus te abençoe.

Daniel Bento
 

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